Malaria Delirium

Porque o trabalho enobrece o homem, mas vadiar é muito mais divertido!

Wednesday, October 04, 2006

Crónicas de quem não tem carro.

Os meios de transporte públicos são a única opção de quem não tem carro. Podemos escolher entre o metro, autocarro, eléctrico, comboio e até barco. Parece que temos aqui um cenário idílico , mas na verdade quem se vê confrontado com a realidade dos transportes públicos diariamente sabe dos perigos que perscutam por entre a multidão. Com a subtileza de um ninja, as cordas vocais de um papagaio e a energia de uma criança, eles atacam-nos sem piedade. Sim, são eles mesmos, os representantes da faxa etária que predomina no nosso país. Os idosos não dão descanso a quem quer que se lhes atravesse no caminho.
É frequente irmos no eléctrico ou autocarro e sentirmos algo duro e fino a espetar-se-nos nas costas, algo que se assemelha a uma garra, e logo de seguida ouvimos uma vozinha aguda, penetrante e trémula: "Vai sair?", ao mesmo tempo que somos gentilmente esmagados contra a porta. "Não, não vou. Que tolice! Eu até gosto de empatar e dificultar as saídas e entradas. Aliás o meu lugar preferido é mesmo à porta." E quando temos o autocarro, eléctrico, ou o que seja, apinhado de gente, e ainda assim eles conseguem passar pelos interstícios e colocarem-se estrategicamente ao nosso colo. Ah, não há nada como aqueles cotovelos astuciosos espetados contra o nosso estômago, braço ou costelas. E aquela bengalita ou guarda-chuva em cima do nosso pé ou apoiado no nosso joelho?! Não pensem que o perigo passa quando estamos confortavelmente sentados, pois é nessas situações que os membros do gang Só um jeitinho investem. Chegam graciosamente ao lugar onde nos encontramos sentados e instalam-se parcialmente ao nosso lado. Há que notar que estes indivíduos são reconhecidos por se sentarem em cima de uma das nossas pernas, escorregando de seguida, e com alguma dificuldade para o lugar que lhes era destinado. Muitas vezes estes espécimes vêm camuflados com inúmeros sacos, saquetas, saquinhos, sacolas e outros apetrechos afins, que são inocentemente despejados para cima de nós. Claro que todos os movimentos destas criaturas são acompanhados pela frase "Só um jeitinho".
Nem vale a pena tentar protestar gentilmente, porque nós não nos tratamos de pessoas, mas sim de jovens e segundo eles, "os jovens já não são como antigamente" e como tal não temos qualquer estatuto que nos permita reivindicar os nossos direitos.
Apesar de ser uma jovem e não uma pessoa, permitam-me que diga que isto foi apenas um desabafo e que estas situações não se aplicam, de modo algum, a todos os velhinhos que por aí circulam!

1 Comments:

  • At 10:48 AM, Blogger Louise said…

    ADORO! Por acaso, adoro mesmo andar nos transportes públicos, e meu dia não é completo sem ser massageada pelas garras e sem o calor humano do gang do Só um jeitinho...

     

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